Jovens Repórteres de Ambiente-JRA

Os Jovens Repórteres para o Ambiente (JRA) investigam, questionam, entrevistam, recolhem factos, captam imagens, reportam e comunicam sobre sustentabilidade, num exercício de cidadania activa .
Este projecto é coordenado em Portugal pela Associação Bandeira Azul:
www.abae.pt


quinta-feira, 23 de junho de 2011

Jovens Repórteres investigam a qualidade da água na Pateira de Fermentelos

Hoje, sabemos que os recursos aquáticos são alvo de questões ambientais importantes e, por isso, torna-se necessário a sua monitorização. A água é um dos recursos naturais mais afectados pela poluição e daí a necessidade de adoptar medidas com vista à sua preservação.

Os Jovens Repórteres da Escola E.B 2,3 Fernando Caldeira manifestaram uma elevada curiosidade em pesquisar informação sobre a qualidade da água, sobretudo para fins aquáticos.

Assim, a qualidade da água pode ser definida por numerosos parâmetros físicos, químicos e biológicos, estando sujeita a influências humanas e naturais, exibindo variações no espaço e no tempo.

Os critérios de qualidade da água diferem consoante o fim a que se destinam: uso industrial, abastecimento de água para consumo, reprodução natural ou artificial de peixes, etc.

Em Portugal, existe legislação que “estabelece normas, critérios e objectivos de qualidade com a finalidade de proteger o meio aquático e melhorar a qualidade das águas em função dos seus principais usos” (Decreto-Lei nº 236/98 de 1 de Agosto). A presente legislação define os valores limites de emissão (VLE), valores máximos admissíveis (VMA) e valores máximos recomendados (VMR) para determinadas substâncias, consoante o uso da água. O organismo que regulamenta as normas da qualidade da água é o Ministério do Ambiente.

Na saída de campo à Pateira de Fermentelos, no passado dia 19 de Maio, os Jovens Repórteres fizeram a recolha de amostras de água em três locais: Espinhel, foz do rio Cértima e Óis da Ribeira. Posteriormente, realizaram as respectivas análises a alguns parâmetros químicos: compostos azotados (nitratos, nitritos e amónia), fosfatos, pH e dureza da água.

O crescimento dos organismos está directamente relacionado com a disponibilidade de nutrientes. No que diz respeito ao crescimento das plantas, o azoto e o fósforo são nutrientes de grande importância. Alguns organismos como bactérias e Cyanophyta, conseguem capturar e utilizar o azoto directamente através do processo de fixação. Outras formas de vida, devido à incapacidade de fixar o azoto, dependem da disponibilidade de compostos azotados, tais como amónia, nitratos e nitritos.

Verificou-se uma maior concentração destes compostos azotados na foz do rio Cértima.

O fósforo, como não se dissolve facilmente, forma compostos insolúveis com metais, tal como o ferro ou o cálcio, em condições aeróbias. Posteriormente, deposita-se nos sedimentos, ficando assim indisponível para as plantas, visto ocorrer na forma de fosfato. O nível de fosfato encontrado nas águas analisadas foi mais elevado na foz do rio Cértima (provocando aumento da eutrofização1).

O pH define qualitativamente o estado do meio relativamente a compostos ácidos ou básicos que afectam o equilíbrio químico e ecológico do meio e deverá situar-se entre 6 e 9 numa escala de 1 a 14 (Decreto-Lei nº 236/98 de 1 de Agosto). Os valores encontrados nas três águas encontram-se dentro do referido intervalo.

A dureza da água, frequentemente usada para avaliar a qualidade da água, refere-se à quantidade de sais de cálcio e magnésio combinados com bicarbonato/carbonato e outros iões, que compensam a acidez da água. Dos três locais da Pateira, o que revelou ter uma água com carácter moderadamente dura foi a foz do rio Cértima. Os Jovens Repórteres concluíram, através dos resultados obtidos, que no rio Cértima existem alguns problemas de poluição e eutrofização1, essencialmente devido à industrialização e às práticas agrícolas que têm enriquecido a água em nutrientes. A actividade agrícola que se pratica na bacia do rio Cértima faz uso de pesticidas e adubos, contribuindo com cargas de nutrientes elevadas, principalmente a jusante do rio, onde se localizam as zonas de cultivo mais intenso. Relativamente à actividade industrial, dispersa por toda a bacia, apenas uma pequena parte dos seus efluentes são tratados antes de serem lançados nos cursos de água, com a consequente contaminação de aquíferos.

Assim, estes jovens são da opinião que deveria haver um maior controlo, por parte das indústrias, em tratar melhor os seus efluentes, bem como uma maior moderação no uso de fertilizantes nas terras de cultivo.

Todos nós devemos preservar o meio ambiente e contribuir para que esta bela lagoa seja incluída na lista das Zonas Húmidas de Importância Internacional ou Sítios Ramsar.

Como certo dia Alberto Caeiro escreveu:

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é.

Mas porque a amo, e amo-a por isso,

Porque quem ama nunca sabe o que ama

Nem por que ama, nem o que é amar...

(1) – Eutrofização – fenómeno causado pelo excesso de nutrientes (compostos de azoto e fósforo) numa massa de água, provocando um aumento excessivo de algas. Estas, por sua vez, fomentam o desenvolvimento dos consumidores primários e eventualmente de outros elementos da teia alimentar nesse ecossistema. Este aumento da biomassa pode levar a uma diminuição do oxigénio dissolvido, provocando a morte consequente decomposição de muitos organismos, diminuindo a qualidade da água e eventualmente a alteração profunda do ecossistema.

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